Endocrinologia Feminina
É a área da Endocrinologia que tem como objetivo identificar e tratar distúrbios hormonais específicos das mulheres. A seguir, descreveremos os principais problemas hormonais femininos.
Irregularidades Menstruais
Os órgãos reprodutores femininos incluem os ovários, o útero, as tubas uterinas e as mamas. Seu crescimento, desenvolvimento e função encontram-se sob regulação hormonal. Os ovários armazenam e liberam o óvulo, e produzem os dois principais hormônios sexuais femininos: o estrogênio e a progesterona. Além desses hormônios, os ovários também produzem, em pequenas taxas, testosterona e androstenediona (hormônios tipicamente masculinos).
A menstruação é um fenômeno cíclico que requer a integridade do eixo gonadotrófico (sistema nervoso central, hipotálamo, hipófise e ovários), além de um endométrio responsivo às mudanças hormonais e um trato genital permeável (isto é, que permita a passagem do fluxo menstrual).
Em condições fisiológicas, não havendo gravidez, a menstruação ocorre em torno de 14 dias após a ovulação, em razão da queda dos níveis circulantes de esteroides sexuais. O ciclo menstrual normal pode variar entre as mulheres, sendo considerado normal quando sua duração é de 21 a 35 dias.
A amenorreia é a ausência ou interrupção da menstruação e pode ser manifestação de várias doenças, endócrinas ou não endócrinas, classificando-se como primária ou secundária:
Amenorreia primária
É a ausência de menarca (1ª menstruação) após os 13 anos de idade, em meninas que não tenham iniciado a telarca (aparecimento do broto mamário), ou aos 15 anos, na presença de características sexuais secundárias.
Amenorreia secundária
É a interrupção das menstruações por 3 meses consecutivos em uma mulher que já tenha menstruado previamente.
Já a irregularidade menstrual é a situação na qual os ciclos menstruais têm durações maiores ou menores do que o normal ou, ainda, quando a menstruação ocorre de forma intercalada (meses sim, meses não – é o que chamamos de oligomenorreia).
A amenorreia pode ser decorrente de:
- Situações fisiológicas: gravidez, amamentação e menopausa;
- Alterações anatômicas do trato reprodutivo;
- Insuficiência ovariana primária (causas auto-imunes, genéticas, enzimáticas ou por injúrias ovarianas – por exemplo quimioterapia/radioterapia);
- Anovulação crônica com estrogênio presente (inclui síndrome dos ovários policísticos, tumores ovarianos ou, ainda, causas adrenais e disfunções tireoidianas);
- Causas centrais (inclui origem hipotalâmica, hipofisária, funcional ou genética).
Deve-se inicialmente identificar situações fisiológicas de amenorreia, como a gravidez, a lactação e a menopausa. Excluídas essas condições, o Endocrinologista irá investigar a causa da amenorreia para instituir o tratamento adequado. Isso inclui a realização de exames laboratoriais, cariótipo, testes genéticos e exames de imagem, principalmente a ressonância magnética.
Excesso de Pelos (Hirsutismo)
O hirsutismo é definido como o aumento de quantidade de pelos terminais (pelos “grossos”) na mulher em locais usuais ao homem, como queixo, buço, abdome inferior, ao redor de mamilos, entre os seios, glúteos, dorso e parte interna das coxas.
O hirsutismo é um sinal clínico de hiperandrogenismo, isto é, de produção excessiva de hormônios tipicamente masculinos, o que sinaliza uma anormalidade hormonal feminina. Outros sinais de hiperandrogenismo incluem engrossamento da voz, aumento do clítoris, aumento da massa muscular, atrofia mamária, acne e alopecia androgênica (perda de cabelo em locais tipicamente masculinos).
A produção exacerbada de hormônios tipicamente masculinos em mulheres, levando ao hirsutismo e outros sinais de virilização, podem ser decorrentes de doenças ovarianas (como a síndrome dos ovários policísticos ou tumores ovarianos) ou, ainda, de distúrbios das glândulas adrenais (como hiperplasia adrenal congênita ou tumores adrenais). A investigação é feita, inicialmente, através de exames laboratoriais, para então partir para os exames de imagem.
Climatério, Menopausa e Terapia de Reposição Hormonal (TRH)
Climatério e menopausa não são sinônimos! O climatério é definido como o período que compreende a mudança da etapa reprodutiva para a não reprodutiva no corpo feminino. Esse período pode ser longo ou não, apresentando questões diferentes para cada mulher.
A menopausa é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a parada permanente dos ciclos menstruais que decorre da perda da função ovulatória (ou seja, os ovários param de funcionar). Considera-se uma mulher em menopausa após 12 meses de ausência de menstruação. Ela pode ser natural ou induzida por cirurgia, quimioterapia ou radiação (que afetem especificamente os ovários), lembrando que a retirada do útero (histerectomia) não interfere na produção hormonal, que é feita pelos ovários. A menopausa natural costuma ocorrer entre 45 e 55 anos, sendo a maioria dos casos em torno dos 50 anos.
Denomina-se menopausa precoce a situação em que surge antes dos 40 anos e menopausa tardia, quando se manifesta após os 55 anos.
Os sintomas vasomotores (fogachos), o suor noturno e a irregularidade menstrual são as queixas mais frequentes do climatério/menopausa. Outros sintomas incluem secura vaginal, dor na relação sexual, disfunção sexual, irritabilidade e insônia. Atualmente, com o aumento de expectativa de vida, as mulheres passam cerca de um terço de suas vidas na condição de falência ovariana.
Assim, a terapia de reposição hormonal na menopausa (TRH) tem como objetivo melhorar a qualidade de vida, aliviando os sintomas e as consequências oriundas das flutuações hormonais nas várias etapas da transição e da pós-menopausa.
Para uma TRH segura é preciso garantir que a mulher não apresenta qualquer contra-indicação para o tratamento, bem como o acompanhamento periódico com avaliação clínica e exames complementares.